Memórias Poéticas... os caminhos & as formigas

Meu pai sempre disse; “um dia se o homi quisé mora até na lua”. E eu não duvido. Você não sabe nada sobre impossível e possível.


Diz que o Coronel pegava uma marreta de borracha para o cara quebrar pedra.


O moço passava dia e noite batendo naquela pedra com a marreta de borracha e nunca quebrava. Daí perguntava: “Quebrou a pedra meu camarada? Não? Então não tem comida”. E lá tem muita formiga de fogo. Aí botava o seringueiro pra cortar numa árvore onde houvesse muitas. Quando a formiga picava ele dizia: “Não mata as bichas. São minhas crias”. Acabava o dia estavam todos picados, com as mãos inchadas e iam para casa sem aviamento.
  
 


 









Memórias Poéticas no meio da mata & sobreviventes



Como um lugar pode fazer tanta diferença em uma atividade? Em uma leitura, em uma experimentação? De diversas maneiras tanto imagináveis, quanto não. Se a primeira revisita na sala de ensaio já me trouxe lembranças e despertou coisas novas, a segunda em ambiente aberto, em campo mais ainda. Muitas das sensações durante as leituras no Tapiri que apenas habitavam a imaginação ou memória, se tornaram concretas. Os cheiros e sabores que são carregados pelo ar; a música da floresta que nunca para, composta pelos ecos, pelo canto das aves, insetos, anfíbios, mamíferos; a reverberação de nossas vozes; o sentimento de nostalgia meu, carregado de lembranças de infância da época em que eu ia pro sítio do meu avô perto no rio Cautário e também de quando mais jovem das minhas idas à campo quando fiz biologia; diversos sentimentos que vem junto desse ambiente natural; não esquecendo do pequeno incômodo dos insetos. De que maneira tudo isso influencia esse processo? De todas que consigo perceber. Visualizar e interagir com as parceiras de cena se torna muito mais natural, mais consciente, absorver e ser trespassado pelo texto e por suas ideias. Do início até mais ou menos 3/4 do texto, fizemos durante o percurso da trilha calçada com um caminho de madeira com exceção do início  que desci e fui de fato pra trilha de chão, nesse momento essa sensação de mata foi forte, apesar de ser uma área perto da cidade e pouco isolada; esse caminho me lembrou os trilhos da ferrovia e caminhos que se cruzaram durante nossa história. Os sons esperados e inesperados da mata interagiram com o ecoar de nossas vozes. Uma surpresa perto do fim desse percurso foi muito bem vinda, um bando de micos-de-cheiro deram o ar de sua graça. Um trecho dentro da mata próximo ao fim dessa trilha, também foi marcante, juntamente com as descidas e da beira do igarapé. Uma visita ao museu trouxe com mais força minha vida na época da biologia, pois além do tema geral que é a biodiversidade eu era taxidermista científico e existem peças minhas em exposição. Terminamos o texto numa mesa ao fim de tarde, ouvindo os visitantes do local em suas atividades. Uma tarde boa e carregada de sensações e pontos de vista.


  

 


Essa madrugada não dormi na casa. Escondi-me no galinheiro abandonado aqui em frente. Não sei o que se passa. Prefiro observar os perigos de fora. De manhã veio um homem. Dito homem de confiança de meu falecido... Olho nos olhos dele. Há brilho. Meu coração sente paz. Posso confiar. O medo passa. Silêncio. Na história não houve mulher que cuidou de seringal até agora. Houve? Como eu o faria? Ele bate em minha porta com respeito e educação. 

 



Memórias Poéticas... Sobreviventes & Árvores

O projeto de pesquisa Memórias Poéticas Sobreviventes do Crescimento das Árvores segue seu caminho de investigação pela floresta e pelos caminhos que nos levará a um destino...

 
Achavam que era como ter uma árvore de dinheiro caindo folha e as pessoas puxando tudo com rastelo... Estradas de seringa que pareciam uma bica... A pessoa cortava e o leite ia caindo na estrada inteira. O camarada só ia defumando. No final do mês estava com seis – sete toneladas de borracha pronta... Guardando o dinheiro dentro de caixas enormes... .
 
Ele avisa a todos que: “passarão o tempo que for até encontrar o que procuram”.
 
Ela quer saber o que acontecerá quando ele descobrir que a borracha... Pela sua reação ela saberá quem diz a verdade. Teme o que pode acontecer. É uma mulher. Só. Os sentimentos não são bons. Ele demora demais para sair da mata. Vai anoitecer.
   
Nessa casa tem quatro cantos, em cada canto uma flor. Dentro dela não entre ódio. Dentro dela só venha amor. Eu trabalho; eu afasto. Eu afasto toda a dor. Eu rego. Eu molho. Eu vou regando. Trabalho no meu regador. Vou trabalhando no canto. Vou florescendo amor.
  

Um dia tô na mata. Ouvi barulho de gente quebrando mato. Comecei a me benzer.. Lá vem visage: "valha-me deus, Comecei  Não há reza que dê jeito. É visage mesmo. Oh, nossa senhora".
  
Nesse mundo tem quatro cantos, em cada canto um caminho. É preciso comunhão para não viver sozinho. Quem planta flor vai colher flor, mas ai de quem plantar espinho. Pra saber o fim da estrada, nem precisa ser adivinho.
 


Memórias Poéticas formas + formas = BARCO


Esses barcos vieram do VER O PESO de Belém do Pará, nas nossas andanças pela Amazônia.


Memórias Poéticas sobreviventes do crescimento das árvores... no começo eram pedaços de  paxiuba - que é uma palmeira Socratea exorrhiza pertence à família das Arecaceae, que ocorre da América Central até à Bacia do Amazonas. Natural de locais alagadiços onde suas raízes adventícias garantem sustentação adequada.

E depois viraram barcos e começaram navegar, navegar... E assim continua a pesquisa.


















Os apontamentos da conversa com Dr. Nilson Santos e análise do processo e pesquisa

Nesta sábado (16/03), das 15 as 18 horas, os integrantes da pesquisa Memórias Poéticas Sobreviventes do Crescimento das Árvores, para avaliação a conversa e o processo realizado até aqui.


O alimento do corpo sempre está presente nos nossos encontros EVOÉ!! que assim seja! O suco verde e cheiroso de capim santo e limão está marcado como delícia refrescante e saudável que vem nos acompanhando nesse processo... o boolo de chocolate que Taiane trouxe, veio junto com memórias de delícias que eu amo e tenho me privado dessas sensações nos últimos meses (por causa da dieta necessária), mas que foi tão lindo aos olhos ver a disposição desses alimentos, na sala mais introspectiva que trabalhamos, menor e aconchegante, que jamais eu deixaria de comer. Oportunidades como essa precisam ser apreciadas, sem moderação! Sabemos que temos muito trabalho e que estamos partindo pra uma nova fase da pesquisa e pensar mais uma vez sobre como esses temas chegam pra mim, me deixa confusa pois desde muito pequena, tenho sido poupada, mas eles sempre vem... chegam até mim, e não é por acaso, acredito eu.  Vim de uma relação muito próxima à natureza, do pantanal sul – matogrossense, das histórias e vivencias de um pai pescador e caçador, que corria rios todos os finais de semana e trazia a caça, o peixe pra família e para todas as famílias de seus companheiros de caçada e vizinhos e para quem chegasse. Da presença de minha irmã mais velha nessas aventuras, e eu sendo poupada, pois em uma dessas pescarias, eu simplesmente cai, afundei rio abaixo e só me lembro do silêncio ensurdecedor, da cor marrom do rio barrento que é o Rio Dourados, da calmaria que foi esse mergulho e das bolhas de agua feitas pelo mergulho apavorado de meu pai para me tirar dali, onde eu estava plena e enrolada nos fios e anzóis da pescaria, sem entender o que estava acontecendo... como até hoje não entendo bem. Esse já é o terceiro trabalho que participo com esse mergulho que sempre está presente na minha vida, mesmo que tenha sido poupada na infância, pous segundo minha mãe (e trago comigo ainda) “zaininha, você não pode olhar muito pra agua do rio! Senão você vai junto...” me sinto atraída sim, e apesar das recomendações dos meus pais, fugia pro ria, atravessava a nado, pulava da ponte, aproveitava a companhia dos moleques companheiros de aventuras e me jogava literalmente nessas águas barrentas... mas não olhava, não encarava essas águas. O primeiro foi em FILHAS DA MATA quando eu tinha que mergulhar em um barril de agua, literalmente, e o fiz, e cada vez que fazia tinha a sensação do meu “mergulho marrom”      AS MULHERES DO ALUÁ, outro mergulho no sofrimento de mulheres de um tempo não muito distante e que ainda persiste, e continua tão fortemente nos nossos dias, e agora nesse projet MEMÓRIAS Poéticas das sobreviventes do crescimento das árvores , que vem pra me consolidar sobre a necessidade de trazer essas mulheres,” sombras das seringueiras”, (como disse Elisabete Cristofolethe) pra me contextualizar ainda mais, e mergulhar mais profundamente nessa mata, nessas águas... barrentas. Por Zaine Diniz

Pelo olhar do Edmar Leite
Uma mesa diferente, chamativa, temática e bonita. Conversa boa regada à Açaí. Nilson Santos, autor da obra base da pesquisa do nosso processo, nos contou suas experiências durante a criação de sua obra. Relatos das vivências, entrevistas, acontecimentos, sentimentos. Certas situações marcaram e me chamaram bastante atenção. A chegada da Beth em sua primeira experiência de campo, "empacotada" como uma dama de época; os parasitas que sempre incomodam (lembram minhas experiências na época que ia pra campo durante meu curso de biologia); a solidão da floresta; viver um dia de cada vez sem desejar o que não está ao alcance; sobre como os mitos, lendas e ditos populares podem ser a base de um código de conduta e moral de um lugar. Uma boa troca. Experiência muito boa pra pesquisa. Grato por tudo.

Zaine Diniz e seu relato:

Em um ambiente preparado com tanto carinho, delicadeza e fartura do mais puro açaí grosso, corpulento e suave, acompanhado das delicadas e barulhentas bolinhas de tapioca, e a majestosa banana disposta num cacho imenso, fruto do nosso quintal, que nos acompanha desde a inauguração do nosso espaço TAPIRI, que vem nos alimentando ao longo desses anos de trabalho, enfim um banquete amazônico!!  Assim foi nossa conversa com Dr. Nilson sobre a sua obra que nos está servindo de base para esse projeto MEMÓRIAS POÉTICAS: sobre as sobreviventes do crescimento das árvores. Um momento especial, onde pudemos ouvir, tirar dúvidas, captar os “brilhos” que faltavam para nossa compreensão da grandiosidade desse trabalho. As emoções foram tantas, e o que me chamou mais atenção, me despertou mais a curiosidade foi esse mergulho que ele fez nos seringais, sua preparação: material/emocional, para se manter vívido e ávido para concluir seu trabalho, que não foi imposto por ninguém, que foi impulsionado pelo seu desejo de professor e de contribuir com essas pessoas que as vezes parece que vivem/viveram em um mundo paralelo e tão próximo de nós.  Foi importante pra mim e para todos do O Imaginario, imaginar ainda mais essa experiência tão rica que ele protagonizou e que nos respalda para o trabalho que estamos fazendo. “Precisamos de tão pouco pra viver...” Ficou marcado. Gratidão!

Pelas lentes do Chicão Santos


Entre as arrumações e colocação de vara de luz no Tapiri, fui me dando conta da importância da conversa com Nilson e a Beth. Ainda mais cedo fui correndo atrás de açaí para servir durante a conversa. E tudo precisa ser diferente quebrar a rotina e ai percebi que faltou cuias para servir o vinho da Amazônia e sai desesperado em busca da cuias, casa do camarão, lojas e mercados. O destino me conduziu para o Mercado do KM 1 e lá encontrei os tamanhos e dimensões certas para servir. Retornei ao Tapiri e Eu Zaine e Flávia já ensaiava a arrumação do espaço para receber nossos convidados para a conversa. Com terçado nas mãos e os troncos das bananeiras serviram de suporte para as cuias, enquanto os cachos de banana colhidos ali mesmo no Tapiri completava a decoração da nossa mesa de conversa.
A conversa foi um grande acontecimento cênico e as pessoas ficaram completamente à vontade para discorrer suas experiências e vivencias em relação a pesquisa.

Os relatos do Dr. Nilson Santos e sua sabedoria adquirida nas convivências com os seringueiros e seringueiras ao longo do Vale do Guaporé me estabilizou  na pesquisa. Quanta experiência, trocas e vivencias no tempo que ele passou no seringal. Fomos nos detalhes, nos pontos-foco da pesquisa, a presença feminina na exploração do látex ou no leite da Mãe da Mata e cada questão clareava a minha mente e os detalhes que me conduz para as futuras soluções cênicas e ficou aqui neste imaginário interminável de saberes e fazeres. As palavras não descrevem o aprendido, o adquirido, o sentido e o vivenciado. Gratidão Nilson e Beth uma aula de história e de humanização.