Como um lugar pode fazer tanta
diferença em uma atividade? Em uma leitura, em uma experimentação? De diversas
maneiras tanto imagináveis, quanto não. Se a primeira revisita na sala de
ensaio já me trouxe lembranças e despertou coisas novas, a segunda em ambiente
aberto, em campo mais ainda. Muitas das sensações durante as leituras no Tapiri
que apenas habitavam a imaginação ou memória, se tornaram concretas. Os cheiros
e sabores que são carregados pelo ar; a música da floresta que nunca para,
composta pelos ecos, pelo canto das aves, insetos, anfíbios, mamíferos; a
reverberação de nossas vozes; o sentimento de nostalgia meu, carregado de lembranças
de infância da época em que eu ia pro sítio do meu avô perto no rio Cautário e
também de quando mais jovem das minhas idas à campo quando fiz biologia;
diversos sentimentos que vem junto desse ambiente natural; não esquecendo do
pequeno incômodo dos insetos. De que maneira tudo isso influencia esse
processo? De todas que consigo perceber. Visualizar e interagir com as
parceiras de cena se torna muito mais natural, mais consciente, absorver e ser
trespassado pelo texto e por suas ideias. Do início até mais ou menos 3/4 do
texto, fizemos durante o percurso da trilha calçada com um caminho de madeira
com exceção do início que desci e fui de
fato pra trilha de chão, nesse momento essa sensação de mata foi forte, apesar
de ser uma área perto da cidade e pouco isolada; esse caminho me lembrou os
trilhos da ferrovia e caminhos que se cruzaram durante nossa história. Os sons
esperados e inesperados da mata interagiram com o ecoar de nossas vozes. Uma
surpresa perto do fim desse percurso foi muito bem vinda, um bando de
micos-de-cheiro deram o ar de sua graça. Um trecho dentro da mata próximo ao
fim dessa trilha, também foi marcante, juntamente com as descidas e da beira do
igarapé. Uma visita ao museu trouxe com mais força minha vida na época da
biologia, pois além do tema geral que é a biodiversidade eu era taxidermista
científico e existem peças minhas em exposição. Terminamos o texto numa mesa ao
fim de tarde, ouvindo os visitantes do local em suas atividades. Uma tarde boa
e carregada de sensações e pontos de vista.
Essa madrugada não dormi na
casa. Escondi-me no galinheiro abandonado aqui em frente. Não sei o que se
passa. Prefiro observar os perigos de fora. De manhã veio um homem. Dito homem
de confiança de meu falecido... Olho nos olhos dele. Há brilho. Meu coração
sente paz. Posso confiar. O medo passa. Silêncio. Na história não houve mulher
que cuidou de seringal até agora. Houve? Como eu o faria? Ele bate em minha
porta com respeito e educação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário