Memórias Poéticas na cidade da borracha por Zaine Diniz

Preparar a mochila que ainda não foi desfeita totalmente da última viagem...  que delicia!  Mais uma etapa da nossa pesquisa se inicia. Meu relógio biológico entra em ação e acordo antes do despertador! As 5 horas em ponto. Últimos olhares na bagagem, e uma enorme xícara de café. To pronta, preparada pra rodar o trecho Porto  Velho/Guajara mirim  -  cidade importante nesse nosso processo. Na estrada, logo de presente, um lindo nascer do sol, que serve como refletor para lindas Fotos da equipe e da paisagem.  Em frente ao presídio de segurança máxima, na BR , surge um arco íris no céu, como presságio de aquele é o caminho. Fiz uma reflexão com meus botões sobre essa estrada que se perde no horizonte e aquele prédio todo fechado como “segurança total” e o céu lindo com o colorido do arco íris reluzente... para todos!! Será?!   Onde estará o pote de ouro?!  Isso eu sei... não é ali.  A estrada remendada em alguns trecho, homens trabalhando em outros e na maioria buracos gigantes capaz de que quebrar varias rodas. Música para animar a combi, apesar de todos estarem com fones de ouvido com seu som particular, escolhi compartilhar o meu com o barulho da combi e do vento, com nosso motorista e diretor Chicão Santos, Pra despertar e deixar a paisagem dominar nosso sentido visual!    Muitas imagens de paisagem ... chama atenção as águas invadindo a pista e me lembro do texto: “do rio que tudo arrasta, diz ser violento, mas não diz ser violento as margens que o comprimem”.  As árvores secas e sozinhas no meio da água. Às vezes me sinto assim... é doloroso. De repente tudo muda e árvores lindas e vistosas enchem nossos olhos de alegria.  Não tenho medo da solidão, do escuro,  ao tenho medo de nada!  Diria Ela em A Borracheira.
Pontes majestosas, velhas em ruínas, mas com uma beleza e elegância das velhas senhoras da Inglaterra. Pontes rainhas!
Chegamos na hora do almoço, e restaurantes não fecham nessa hora (referem se à monotonia da cidade que cultiva a sesta do meio dia). Nos deliciamos em uma maravilhosa comidária árabe. A aventura só está começando.

TRAVESSIA
Hora de atravessar essa imensidão de Rio. A voadeira nos conduz, e as águas como único caminho para chegar ao país vizinho Bolívia - Guayara  Mirym. Sempre que faço a travessia, fico pensado para que lado nadar caso a voadeira vire.  Sei que é sinistro pensar assim, e pior ainda, evito olhar as águas!  Não consigo encarar e ainda mais tão perto dela.  Um passageiro questiona o outro: para que usar colete salva vidas? Se morrer já era mesmo!  O outro diz: pelo menos vão encontrar seu corpo!
A energia é forte demais e eu sou fraca demais perante esse mar de Rio, diante da grandiosidade da natureza viva e corrente. Do outro lada, a paisagem muda, a língua muda, a fisionomia muda... quanta diferença se apresenta aos meus olhos. Motos com 4, 5 pessoas, inclusive crianças. Vi uma até dormindo entre as 5 pessoas da motoca. Sol a pino, cidade de comércio fraco, lojas fechadas com caixas de papelão e tecidos, comerciantes almoçando entre suas mercadorias, crianças correndo pelas calçadas, mulheres vendendo  bugigangas de encher os olhos!! E eu, encantada com as cores, cheiros e sensações.
Um milhão de vidas de uma só vez, e vamos vivendo, cada uma delas.
A CIDADE
Resquícios de uma cidade que já foi pujante estão por todos os lados e cantos da Pérola do Mamoré - Guajará Mirim que no dialeto indígena significa  Cachoeira Pequena, que tem seus encantos e encontros. Histórias incríveis estão em cada pedaço desse chão. Figuras importantes que nos instiga a conhecer mais do povo, dos monumentos e da cidade em si com prédios antigos quase em ruínas, sem o cuidado e zelo com a história. Dom Rey é nos apresentado pela singela biblioteca que visitamos e a sua importância na alfabetização de um povo. Compramos um livro (que ainda estou lendo) que apresenta depoimentos sobre a pessoa de Dom Rey, padre francês que veio pra região  e deixou um legado grandioso para a reunião.  A cidade exala história. Visitamos o mosteiro da Nossa Senhora dos Seringueiros, prédio lindo e abandonado. Até domingo quem sabe consigamos entrar pra sentir de dentro a energia desse monumento. Amanhã, sexta feira da paixão, programação especial na igreja dos seringueiros. Estaremos lá. No retorno, uma caminhada na feira perto da pousada, onde mulheres comandam as bancas de verduras, frutas e legumes. Fortes, mandando e homens, obedecendo. Gostei do que vi. Retornamos para a pousada, boa comida e bom descanso para nos preparar para amanhã. “Senhora da floresta, dai me a força e a luz da porongo pra iluminar a escuridão. Que o corpo vegetal me de sustento, pois grande é a floresta e maior é a solidão”- trecho da A Borracheira (Daniel Graziane).













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