As memórias poéticas esculpidas nos corpos e na alma.




"Que horror!!!!    Às vezes penso que somos culpadas mesmo dessas coisas   Aff    De tanto ouvir, ver e presenciar essas coisas     Que castigo ser mulher!!      Ainda bem que só às vezes penso isso..."


Infância na palma da minha mão. Pura nostalgia. A semente da seringueira era um dos entretenimentos das crianças beradeiras. Reencontrar fragmentos da seringa me remete à muitas emoções. Sou neta de seringueiro e seringueira. Carrego em mim as vivências de meu avô e minha avó, tios e tias, e o que nos restou desses ciclos tão agressivos.  Hoje, minha avó Sebastiana Diniz, com 94 anos, deitada numa cama, mal lembra de seu nome, carrega no corpo as marcas da trajetória dessa árvore-borracha.


 

  

 

Os raios de sol tocavam as copas/topos das seringueiras, as folhas distantes e verdes não mexiam. Uma quietude do tempo/espaço vegetal. Ao lado das árvores frondosas e adultas, pouca juventude e em seus troncos muitos e certos registros dos obstáculos e dos processos de resistências para chegar à idade adulta. Assim como na vida dos humanos no vegetal o percurso parece ser o mesmo. Calos e frestas/arestas vão delineando a idade cronológica de cada um neste mundo. As rachaduras normalmente são aparentes e estampas acima das raízes visível à todos. É um processo histórico da existência, é por assim dizer um registro de cada dia/mês/ano de tomada de decisão, de luta pela permanência neste planeta. São memórias impregnadas pelo tempo. Há de sobrevivermos ao crescimento das árvores.


 


Circuito das Seringueiras

Chegada curiosa, tímida.. reconhecer os caminhos. Todas as árvores do mesmo tipo, porém com histórias diferentes, marcas, força, raízes, formas.. Fendas aparecem, verdadeiros portais que nos levam e trazem a lugares longínquos, memórias perdidas e encontradas. Fendas grandes e pequenas, marcas, cicatrizes, feridas, caminhos que foram perdidos. Registros, ver as coisas de formas diferentes, mesclar cores, pessoas, elementos, pensamentos. Sentir a energia da mata, apesar de não estar exatamente nela. Lembrar de histórias e causos contados por meu avô. Sensação de ação coletiva, conexão, como todas aquela árvores pálidas se conectam? Como eu me conecto a elas? Como esse ambiente já foi? Essas conexões que desenvolvemos, a partir do momento que nos permitimos a absorver, ouvir, olhar, sentir. Primeira experiência de campo, muito interessante e estimulante.


Um novo processo se inicia. E o que, diariamente, reverbera em mim é a ideia da mulher ser tão integrante da natureza quanto o objeto foco da pesquisa: a Seringueira. Por enquanto, é apenas uma impressão, mas já deixo a reflexão registrada.
Dia 06 de Março de 2019 - Visita ao parque Circuito
Nesta visita, algo me chamou mais atenção (ou seria intuição ?).. Em vários momentos, percebi a seringueira como minha semelhante. Nela estão presentes suas marcas, formas,alturas e texturas. Foi inevitável deixar os registros virtuais de lado, para despertar as sensações, e assim, permitir que meus sentidos aproveitassem a ocasião. Em vários momentos, inconscientemente, me aproximei das seringueiras com a necessidade do contato físico. E com o toque, vivenciei o que já refletia.. Eu, carregada de marcas (sardas, piercing,tatuagem,espinhas, manchas), formas e altura (limites e tamanho do corpo) e textura (pele ressecada ou molhada). Notei-me ainda mais próxima à natureza.
Dia 07 de Março de 2019 - Leitura de um texto no Instagram sobre Mulher e sua magia
No dia seguinte da visita ao Parque circuito, encontrei o texto a seguir,que complementou a sensação do dia anterior:
"Toda Mulher é mágica. Elas transformam tudo que tocam. Elas fazem um conto de fadas se tornar realidade... e faz da realidade um conto de fadas (Lenilson Xavier). Ser mulher é ser, viver e se tornar cria das águas e depois senhora das águas. Filha do mar... Senhora dos mares. Filha da terra... Senhora da terra. Filha dos ventos... Senhora dos ventos. Filha do fogo... Senhora do fogo. Filha do amor... Senhora do amor. Desperte a magia que há dentro de você. Se há mulher, há magia. E viver isso é fazer renascer a alma... e pulsar na terra... e pulsar nos céus (Carmem K’hardana). Todas as mulheres possuem um lado mágico em sua natureza que está incorporado ao seu arquétipo - bruxa, que personifica a capacidade que a mulher tem de intuir, criar, encantar, proteger, iniciar, nutrir, ensinar e curar. Ela é uma figura de extraordinária capacidade de avaliação, compaixão, resistência e força (Laurie Cabot). Ao longo de séculos as mulheres sensitivas foram perseguidas e condenadas pelos seus dons extrasensoriais, uma vez que isso representava uma ameaça para as forças  que estavam no controle (Rana Vitória). Mas elas permaneceram firmes em seus esforços de manter o equilíbrio e de transformar tudo para o bem de todos. Se cada mulher ouvisse com atenção seu próprio canto secreto - não apenas com os ouvidos, mas com os olhos (todos os três), o ventre, os seios, o coração, o espírito e a alma - descobriria um poder que carrega dentro de si desde antes do início dos tempos (Laurie Cabot). Reestabeleça a sua ligação com a energia feminina da "Mãe Natureza" e resgate a curadora que há em você. Quando uma mulher decide curar-se, ela se transforma em uma obra de amor e compaixão, já que não se torna saudável somente a si própria, mas também para toda a sua linhagem (Bert Hellinger). Enviando vossas bençãos elas elevam a consciência coletiva com o seu campo energético. Isso se torna uma força de mudança suscitando e ancorando um novo paradigma. Quem quer que chegue perto será curado (A. Desconhecido)." Texto de Rana Vitória.
O texto chegou como  reforço das minhas atuais perspectivas, decorrentes da minha presença como mulher: a extensão/integração/ligação da natureza.

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