Nesta sexta-feira (15/03) Um encontro para descrever experiências nos Seringais ao longo do Rio Guaporé/Vale do Guaporé, no Estado de Rondônia, divisa com a Bolívia.
"Sabe que comecei a gostar da
minha história... Não sabia que ela pudesse ser tão bonita!
Vocês podem ser muito
inteligentes... Mas não são espertos quando estão no mato".
Disse que muita gente morreu afogado ... ia querer cruzar o
rio de um lado pro outro e não sabia remar ... alagava a canoa e morria. É
muito triste a maneira como ele conta. É interessante que grave pras pessoas
ficarem sabendo como viveu o soldado da borracha ... muita gente tem esse
conhecimento mas não tem a habilidade pra contar aquilo tudo que viu.
O Seu Damasceno tem uma história interessante: foi pego
quando criança pelos índios e levado pra aldeia ... foi criado até a juventude
até que pôde fugir pra civilização de novo ... sabe contar os dois lados: ser
civilizado e o ser índio ... como o índio pensa. Que eu tenho conhecimento que
ele foi um dos melhores mateiros dessa região ... tanto mateiro de rumo como de
colocação.
Enquanto os homens começaram a falar sobre as histórias
que sabem e as aventuras por que passaram, as mulheres recolheram os copos e
foram para o pequeno coberto de paxiúba usado como cozinha, dando claras
mostras de que o que estávamos fazendo era restrito aos homens, o que fez
perceber que seria difícil fazer qualquer gravação com mulheres. Sempre que
paramos, os homens procuravam os homens para conversar, e as mulheres ficavam
alguns instantes para observar a conversa, e sob o pretexto de passar um café
iam para a cozinha de onde vinham rapidamente para deixar a garrafa térmica, e
depois retornavam.
Um dos filhos de Edmundo, que tem cinco anos, não fala uma
palavra sequer, mas imita galos e patos com perfeição, pois com eles
passa a maior parte do tempo. Os adultos só se dirigem as crianças para dar
ordens; e mesmo quando as crianças brincam. Pouco falam entre si, suas
brincadeiras são geralmente solitárias, andam pelo terreiro o tempo todo, mas
não têm o hábito de falar.
Depois de comermos, enquanto as mulheres deitaram no assoalho
para tirar um cochilo, as crianças se embrenharam pelo mato para
brincar.
Os olhos foram ficando pesados, o
trançado dos galhos das árvores mais e mais parecido com as ripas e telhas da
velha casa da avó, e apesar de sentir o suor aumentando no peito, dormi
profundamente por uma hora. A ferrada dos piuns começou a
intensificar.
Mais tarde, começou o movimento
em direção ao rio para o banho. Primeiro vão as crianças que sabem banhar-se
sozinhas, depois as crianças menores e as mulheres, e por fim, individualmente,
os homens.
A fina fumaça transparente subia
vagarosamente desenhando movimentos serpenteados até desaparecer nas copas
fechadas das árvores, deixando forte cheiro defumado. Lentamente o toc-toc vai
empurrando o sisal, que vai fechando as fendas. O dia foi chegando ao fim e a
primeira demão daquela fervente gosma emborrachada começa a ser espalhada no
fundo do barco, formando listas pretas nas frestas da madeira vermelha.
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